PREPARAR OS CAMINHOS DE DEUS
NO CORAÇÃO E NO MUNDO
“Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. Todo o vale será aterrado, todo o monte e colina serão rebaixados; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os esburacados se tornarão planos. E toda a criatura verá a salvação de Deus.” (Lc 3,4ss.). A vinda de Jesus Cristo abre caminho, Ele é aquele que “rompe todas as cadeias” (Miq 2,13), que “faz em pedaços as portas de bronze e quebra as barras de ferro” (Sl 107, 16), “derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes” (Lc 1,52). É com este anúncio de esperança que recria a vida e o ser humano que celebramos o segundo domingo do advento.
A vinda de Jesus é um caminhar na luta constante contra o mal. Não é esmagar o ser humano, mas quer nos encontrar em atitude de humilde expectativa, num caminho de conversão, a sua vinda foi preparada pelo convite a preparar o seu caminho. Tal preparação não é apenas um acontecimento interior, mas um agir que transforma a realidade de modo visível e de amplas proporções. “Todo o vale será aplainado.” Tudo o que caiu na miséria humana mais profunda, tudo o que foi pisado e humilhado será exaltado. «Todo o monte e colina serão nivelados.” Se Cristo há de vir, é necessário que toda a soberba, todo o orgulho se dobre.
O caminho de Cristo é um caminho de recriação, de compaixão e misericórdia, mas também de justiça. Por isso, o caminho em que Cristo quer vir ao ser humano deve ser um caminho direito, um caminho transformador. “Os caminhos esburacados se tornarão planos”. Os apegos, a arrogância e a recusa podem ter endurecido de tal modo o ser humano que Cristo só com a ira pode aniquilar o recalcitrante e já não pode entrar nele com a sua graça, que a porta se fecha à vinda de Cristo na graça e nenhuma porta se abre àquele que nela bate.
Cristo vem e abre o seu caminho, esteja ou não preparado o ser humano. Ninguém pode impedir a sua vinda, mas podemos opor-nos à sua vinda na graça, ao seu amor. Há condições do coração, da vida e do mundo que impedem de modo particular a recepção da graça e do amor Divino, que tornam infinitamente difícil a possibilidade de crer e comprometer-se com o projeto de Jesus. Mas tudo isto não nos dispensa de preparar o caminho para a sua vinda, de remover tudo o que a impede e dificulta. Não será a nossa indiferença que impedirá a sua vinda. Podemos tornar difícil para nós e para os outros o acesso à fé., mas não a vinda de Cristo e de seu Reino.
É difícil para quem se encontra mergulhado no desânimo, na preguiça, no abandono, na pobreza, na impotência mais profunda crer na justiça e na bondade de Deus; é difícil para aqueles cuja vida mergulhou na desordem e na ausência de disciplina para escutar com fé a Palavra Divina; é difícil ao que está saciado pelo poder; é difícil a quem se deixou iludir pela heresia das mentiras e que se tornou interiormente e indisciplinado para encontrar a simplicidade e humildade necessária para se entregar, de coração, a Jesus Cristo.
Mas tudo isto não exclui a tarefa da preparação do caminho. Trata-se antes de uma incumbência de enorme responsabilidade para todos os que sabem da vinda de Jesus Cristo. O faminto tem necessidade de pão, o sem teto de uma habitação, aquele que foi privado dos seus direitos de justiça, aquele que está só de companhia, o desregrado de ordem, o escravo de liberdade. Seria uma ofensa para Deus e para o próximo deixar o faminto na fome, porque Deus estaria de modo muito particular próximo justamente da necessidade mais profunda. Por amor de Cristo, amor que concerne tanto ao esfomeado como a mim, partimos com ele o pão, partilhamos com ele a habitação. Se os necessitados não chegam à fé, a culpa recai sobre aqueles que lhe recusaram o pão e o o testemunho da Palavra divina. Proporcionar o pão ao esfomeado significa preparar o caminho para a vinda de Jesus, dando o testemunho do amor, da justiça e misericórdia divina.
Preparar o caminho para Cristo não significa apenas criar determinadas condições desejáveis e convenientes, por exemplo levar a cabo um programa de reformas sociais. Se é verdade que a preparação do caminho consta de intervenções concretas no mundo visível, se é verdade que a fome e a sua satisfação são concretas e visíveis, é também verdade que o fato decisivo é que semelhante ação seja uma realidade espiritual porque, em última análise, se não trata justamente de reformar as condições do mundo, mas da vinda de Jesus Cristo. Só a uma preparação espiritual do caminho se seguirá a vinda do Senhor que que nos quer comprometidos coma conversão pessoal e social.
Somos, então, neste segundo domingo do advento, convidados a rever nossa prática religiosa, e tomar uma decisão, fazendo um êxodo pessoal: abraçar a religião profética, abandonando todas as práticas das antigas estruturas, renovando a maneira de conceber Deus e abrindo-se ao Espírito Santo, dom de Jesus, o balizador por excelência.
Mas isto significa que as ações visíveis que devem ter lugar para preparar os homens em vista do acolhimento de Jesus Cristo devem ser atos de humildade perante o Senhor que vem, ou seja, atos de penitência, de solidariedade, de justiça e de paz. Preparar o caminho quer dizer penitência (Mt 3,1ss.). E penitência significa conversão concreta, penitência exige ação, exige compromisso e fidelidade coma s causas do reino de Deus.
Pe. Arilson Lima, SVD