AFONSO ALVES DA CRUZ
Alfonso era grande herói e defensor dos povos indígenas. Nunca foi valorizado na própria cidade de Altamira. Trabalhou no SPI e na FUNAI. Numa tentativa de contato com os Arara antes de serem exterminados pelo avanço da Transamazônica. Numa tentativa ele foi flechado, uma flecha atravessou o corpo passando pulmão. Outro passou pelo rim. Milagrosamente ele escapou. Conseguiu helicóptero para Altamira e avião para Belém onde passou três meses. Diz o Afonso: “A gente tinha arma mas nunca pensamos em usar contra os índios.
O MASSACRE DA PRAIA DO FRIZAN
O pior tempo de massacres era da época da borracha. Um dos piores que ouvi falar foi quando massacraram os Kayapó do Kararaô. E eu conheci o patrão que mandou esse ataque. Foi o Frizan, o patrão. O seringal se chamava de Praia do Frizan ou só Praia. Eles foram lá na aldeia dos índios e atacaram lá. Eu conheci índio que sobreviveu ao massacre, que tinha bala no couro.
O massacre aconteceu no Riozinho do Anfrísio, mas eu não sei o ano. Conheci duas seringueiras que os índios tinham raptado. Uma de Porto de Moz e a outra não sei. Uma se chamava Raimunda. A outra não sei o nome mas os índios botaram o nome dela de Notu. As duas escaparam do massacre. Eu conversei muitas vezes com elas lá no posto. Eles contaram que só ouviram o pessoal atirando, se esconderam, entraram na mata quando ouviram o barulho dos tiros. Quando voltaram viram um horror de gente morta. Esse que conheci que escapou, escaparam nove, entre eles o Tronto que era cacique da aldeia. Ele falou que não conseguiram enterrar todos os corpos. Ficaram dois dias enterrando os corpos. Começara a apodrecer, a feder e teve que deixar a aldeia.
Conversei com um que participou e me contou que mataram noventa e poucos nesse ataque.
Contada por Afonso Alves da Cruz
Escrita por Patrício Brennan, SVD